David Almeida rebate cientistas sobre 3ª onda da covid-19 em Manaus e descarta lockdown Segundo o prefeito de Manaus, David Almeida, essas previsões são infundadas, uma vez que não possuem comprovação científica
O prefeito de Manaus, David Almeida, rebateu, nesta quarta-feira (10), as declarações de cientistas que alegam a possibilidade de uma 3ª onda da covid-19 na capital amazonense.
Segundo o gestor, essas previsões são infundadas, uma vez que não possuem comprovação científica.
A declaração foi dada em coletiva de imprensa durante lançamento do programa Auxílio Manauara, na sede da Prefeitura de Manaus.
Esse alerta da 3ª onda da covid-19 em Manaus ganhou força nessa terça-feira (9), quando o cientista e biólogo Lucas Ferrante, responsável pelo artigo “Políticas do Brasil
condenam a Amazônia a uma segunda onda de covid-19”, fez um pronunciamento na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), durante a sessão de ontem, avisando sobre o que Manaus ainda pode enfrentar nos próximos meses.
A recomendação do cientista é de estabelecer medidas mais restritas que as atuais, como o lockdown ou fechamento do aeroporto – pelo período de 90 dias – além da vacinação em
massa de 70% da população.
Hoje, David Almeida esclareceu que já estava ciente dessa informação, uma vez que Lucas Ferrante já havia entrado em contato com o prefeito para uma reunião sobre o assunto. Foi nesse encontro, segundo Almeida, que ele verificou serem infundadas e sem comprovação as alegações do biólogo.
“Esse rapaz, esse cientista mandou um zap [sic] para mim e eu fui ouvi-lo. Chamei dois cientistas médicos, já que ele vai falar comigo e eu não tenho conhecimento científico. E ele falava de fazermos um lockdown de 90 dias, sem ninguém sair de casa, que a cada mês,30 dias, diminuiria 10% da mortandade”, disse o prefeito.
“Ele fez um estudo e disse que era com uma universidade de Minas Gerais, Inpa, e tal. E os meus pesquisadores fizeram três perguntas para ele. ‘Com quantas pessoas você fez o seu
estudo?’. Ele fez com cinco pessoas, segundo ele, não disse quem. Não disse qual estado,se era média, grave ou se era assintomático”, continuou.
“Aonde [sic] você publicou? Não publiquei em lugar nenhum. Qual a comprovação cientifica do que você está falando?’Aí, você pede para fechar 30 dias.
Mais algumas perguntas foram feitas para ele. E eu tive que sair da sala e deixei meus técnicos. Então, a informação precisa ser dada com clareza. A população não aguenta mais a questão de você estar em isolamento”, afirmou David Almeida.
O prefeito também disse que a ocorrência da 2ª onda não é uma novidade, visto que ‘todas as pandemias mundiais tiveram segunda onda’.
“Imagina, 90 dias e a cada 30 dias diminuir 10%. ‘Ah, porque eu avisei da segunda onda’,segundo ele. Mas como? Meu cientista disse que todas as pandemias mundiais tiveram segunda onda, você não fala nenhuma novidade. Foram essas três perguntas que fizemos. E, por isso, nós não acatamos as suas recomendações”, disse.
Vacinação em massa
Sobre a vacinação em massa, David disse que isso já está sendo feito e ressaltou que Manaus é referência em vacinação, se comparada com as demais cidades do Brasil.
“Com relação a 3ª onda, que vai diminuir, é exatamente o que nós estamos fazendo:
vacinação em massa. Enquanto o Brasil está vacinando 80 anos, nós já estamos vacinando e finalizando 70 anos […] Não é a prefeitura que determina quais serão os grupos que
serão vacinados.
O Ministério da Saúde, os órgãos de controle priorizam alguns grupos e nós estamos seguindo exatamente isso. O que cabe à prefeitura é a execução e na execução, a Prefeitura de Manaus é a primeira do Brasil, é a referência”, disse.
A dificuldade, segundo Almeida, é a oferta de vacinas que ainda é baixa e que isso deverá melhorar quando os insumos para fabricação das doses chegarem ao Brasil
estuprar irmã de apenas 8 anos.
“Em relação a comprar vacinas, nós temos recursos. Mas não existe vacinas para serem compradas. Não existe oferta.
Hoje, recebi uma oferta, mas muito longe, só daqui há três
meses. Pelos insumos que estão chegando ao Brasil e com a fabricação aqui no Brasil por dois laboratórios e o advento da vinda da Sputnik V, nós vamos ter uma oferta maior de
vacinas. O povo precisa de vacina, mas nós temos limitações. Se tiver para vender, aprefeitura vai comprar”, finalizou.
Resposta do Cientista
Lucas Ferrante rebateu as declarações do Prefeito de Manaus e afirma que o negacionismo de David Almeida sobre os resultados do estudo, pode colocar toda a cidade em risco.
“Eu me reuni com o prefeito de Manaus, onde apresentei os resultados de um estudo epidemiológico que nós realizamos anunciando uma terceira onda da Covid. Ontem, dia 09 de fevereiro, apresentei o mesmo estudo na Aleam a todos os deputados que ouviram com muita consideração. Hoje, numa coletiva de imprensa, o Prefeito de forma falaciosa, disse que o nosso estudo contemplava apenas cinco casos.
Não, o nosso estudo é um modelo epidemiológico matemático, onde nós consideramos todos os suscetíveis, recuperados e os expostos para toda a população de Manaus. Dessa forma, todo nosso resultado ontem foi mostrado aos deputados, demonstrando que Manaus corre risco de uma terceira onda”, declarou o cientista.
Caso novas medidas de isolamento não sejam adotadas, Ferrante prevê um terceira onda de infecções já em março. E pior: com a circulação descontrolada do vírus, há possibilidade de novas cepas imunes a vacinas surgirem. “Recomendamos um lockdown de vinte dias ou um mês, em que se restrinja a circulação de 90% da população de Manaus. Concomitantemente com uma ação massiva de vacinação, que deve atender pelo menos 70% da população nos próximos três meses”, ressaltou.
Ao expor dados da variante da Covid-19 na tribuna da Aleam, com base em uma ferramenta epidemiológica para prever a situação da pandemia e tentar antecipar uma tomada de decisão – que são os modelos SEIR (Susceptible – Exposed – Infected – Removed), Lucas Ferrante, alertou que a nova cepa pode resultar numa terceira onda da pandemia no Amazonas. “Quem teve contato com a primeira linhagem não tem resistência à P1. Isso mostra que os casos de reinfecção serão extremamente grandes”, disse.
“Sem o isolamento social adequado, Manaus deve enfrentar uma terceira onda ainda em 2021. É necessária uma fiscalização forte da polícia para garantir o fechamento de Manaus. Além disso, é impensável a volta às aulas presenciais para qualquer local do Brasil neste momento, justamente para impedirmos o espalhamento da variante que surgiu no Amazonas.
Recomendamos o fechamento também das fábricas e do Distrito Industrial em Manaus, que podem parar sem quebrar e sem deixar de pagar o salário de seus funcionários”, destacou Lucas Ferrante, biólogo e doutorando do programa de Biologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e o primeiro autor do artigo na revista científica.
“Não existe lockdown em Manaus hoje, apenas um isolamento parcial que já sofre pressões para a reabertura da cidade. Uma reabertura, mesmo que gradual, agora propiciaria um cenário de manutenção da pandemia, e um ritmo de casos e mortes altos durante todo o ano e entrando em 2022”, frisou Ferrante.
O grupo, que deve publicar um novo artigo nas próximas semanas com as projeções para 2021, é formado por profissionais de diversas áreas como medicina, biologia e matemática. Além de Lucas, fazem parte do estudo os doutores Philip Fearnside do INPA, Luiz Henrique Duczmal, professor do Departamento de Estatística do Instituto de Ciências Exatas (ICEx) da UFMG, Unaí Tupinambás, docente do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da universidade mineira, Wilhelm Alexander Steinmetz e Jeremias Leão, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Alexandre Celestino Leite Almeida, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), e Ruth Camargo Vassão, pesquisadora aposentada do Instituto Butantan.
Resistência às vacinas
De acordo com o cientista, a taxa de transmissão e mortalidade por covid deve se manter a mesma durante todo o ano se não forem aplicadas medidas drásticas de isolamento, facilitando o surgimento de cepas. “Isso deverá propiciar novas mutações, o que pode culminar em uma nova variante resistente às vacinas já produzidas”, afirma.
O cientista frisa que a atual segunda onda não é fruto da nova cepa, notoriamente mais transmissível e responsável por mais mortes em Manaus e interior, e que possui similaridades com as encontradas na África do Sul e no Reino Unido. “Essa segunda onda é fruto da negligência de governador e prefeito da capital, de não terem decretado um lockdown severo por algumas semanas no ano passado”, diz.
Como o estudo previu, o Estado teve um aumento de mais de 600% na média de mortes por covid-19 entre dezembro e janeiro. Na última semana de 2020, a média diária de óbitos pela doença foi de 19 pessoas no Amazonas. No dia 31 de janeiro, foram 139 mortes.
Resistência ao isolamento
Ferrante se reuniu com o atual prefeito, David Almeida, em 21 de janeiro. Segundo ele, embora tenha se mostrado receptivo, o prefeito não tomou ainda nenhuma das providências sugeridas para impedir uma terceira onda de coronavírus na região.
“Sugerimos o lockdown e que a prefeitura estabeleça um diálogo direto com o Ministério da Saúde e governo do Estado para a compra de mais vacinas, a exemplo do governo de São Paulo, para impedir que a doença se propague e que o vírus sofra novas mutações e fique mais resistente”, defendeu. A assessoria do prefeito confirmou o encontro, mas não comentou o teor.
No ano passado, os pesquisadores também tentaram se reunir com o prefeito Artur Neto, sugerindo lockdown antes do Natal, mas a reunião foi desmarcada em cima da hora por um assessor. A assessoria do ex-prefeito confirma que sua agenda não permitiu o encontro à época.
Ferrante também coordenou um estudo em maio do ano passado, a pedido do Ministério Público Estadual, apresentado em uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado.
Os dados apresentados foram alvo de desconfiança de deputados governistas e da então diretora da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) do Amazonas, Rosemary Costa. Segundo ela, os dados de que a FVS dispunha não apontavam para aumento de casos nos próximos meses.
“Nós somos vigilância ativa, temos dados em tempo real e são baseados em sistemas oficiais. Nós não admitimos que a FVS seja tratada como um órgão menor e nossos dados sejam questionados”, disse a diretora na audiência pública, que pode ser assistida no YouTube. Rosemary morreu no dia 22 de janeiro, aos 61 anos, por covid-19 durante a segunda onda que Manaus atravessa. L
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